Do Racismo, da Democracia Racial e da Descolonização
notas sobre educação para um Brasil que precisa se libertar
Palavras-chave:
Racismo., Educação., Democracia racial., Descolonização., Democracia.Resumo
Este artigo propõe analisar a educação como um radical da vida, que ao ser praticado nas mais diferentes formas de relação entre os seres e o mundo para ser democrático, deve responder de maneira responsável à questão da diferença. A diferença como uma problemática da ordem da alteridade, encontra no dialogismo e na dialogicidade freiriana (FREIRE, 1967) força para uma experiência plural e emancipadora. A afirmativa aqui lançada emerge não como resposta fixa, mas como travessia, dimensão ética e estética, aspecto que deve ser comum a qualquer processo educativo implicado com a libertação. A partir do cruzamento de importantes teorias sobre racismo e descolonização (FANON, 2008; MBEMBE, 2014, 2018), argumentamos que a educação como prática de liberdade (FREIRE, 1967) e responsável com as relações étnico-raciais, emerge como força transgressora (HOOKS, 2019), penetrando um modo monológico que, por ser avesso à diferença, é também avesso à vida. Também discutimos a dimensão genocida da colonização brasileira e sua "democracia racial" (NASCIMENTO, 2016), como pontos chave para a análise das tramas que envolvem o contínuo colonial e a constante batalha por liberdade. Finalmente, defendemos que uma educação implicada com as diferenças e com o combate ao racismo como enfrentamento necessário na luta por justiça social e cognitiva, acontecerá quando implodirmos as raízes coloniais, os fundamentos presentes na noção de democracia racial que mistifica o genocídio e violência sistemática contra a população negra.
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